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Elástica explica: burnout

A síndrome ligada ao trabalho gera esgotamento mental, sintomas físicos e atinge 32% dos brasileiros

por Beatriz Lourenço Atualizado em 6 abr 2022, 12h01 - Publicado em 6 abr 2022 01h59
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(Clube Lambada/Ilustração)

idar com prazos curtos, acumular funções, ultrapassar oito horas de tarefas por dia e não ter tempo de descanso parece até ser a rotina comum de qualquer trabalhador. Isso porque era digital, as cobranças geralmente ultrapassam o limite do expediente e estão sempre conosco – basta desbloquear o celular que se tem um acesso fácil ao e-mail e mensagens. No entanto, a prática recorrente pode ser perigosa e acarretar o aparecimento do burnout.

A tradução livre do termo, “queimar-se de dentro para fora”, diz muito sobre essa doença que acomete 33 milhões (32%) de brasileiros, segundo uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR). Em um ranking de oito países, nós ocupamos o 2º lugar em nível de estresse, ficando atrás somente do Japão, com 70% da população atingida.

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O descobrimento da síndrome foi feito pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger, em 1974, após identificar em si mesmo o esgotamento profissional. Na época, ele trabalhava 12 horas por dia e começou a perceber alterações de humor, esgotamento e até sintomas físicos. Quando observou que alguns de seus colegas passavam pelo mesmo, fez uma análise clínica e realizou o diagnóstico até então, inédito.

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No Brasil, o Ministério da Saúde incluiu o burnout na lista de doenças relacionadas ao trabalho em 1999. Por ser um fenômeno global, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, reconheceu a condição como “uma síndrome ocupacional resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. Porém, a partir de janeiro deste ano, o órgão classificou a condição como doença ocupacional. Na prática, isso significa que agora estão previstos os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados no caso das demais patologias relacionadas ao emprego.

“Há quatro grandes variáveis que levam o trabalhador a ter esse sofrimento: carga excessiva, contato constante com pessoas, pressão excessiva e mudanças permanentes no trabalho”, explica Cloves Amorim, professor do curso de psicologia da PUC-PR.

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(Intervenção sobre foto de Cottonbro/Pexels)
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Não é só cansaço

“Eu trabalhava muitas horas por dia e o emprego era bem frenético. Nessa época, tinha crises de choro inexplicáveis, de ansiedade e ficava doente o tempo todo. Sempre me cobrei muito e passei a me cobrar mais ainda”, relata Gabriela Varella. “Não importa quantas horas eu dormisse, sempre acordava cansada. Era inexplicável, como se algo tivesse sugando a minha energia. Era difícil até de levantar da cama.”

O burnout é muito diferente de um cansaço comum porque não diminui após um fim de semana prolongado, férias ou dias de descanso. “A metáfora mais antiga que existe quando falamos disso é a comparação com um elástico: quando você o estica muito, ele não volta ao normal e deixa de cumprir sua função”, diz o especialista. “É a mesma coisa com a nossa cabeça. Há um excesso de demandas que o indivíduo não tem recursos pessoais para lidar”.

Ainda não há evidências na literatura científica sobre como esse tilt acontece no nosso cérebro. No entanto, o psicólogo acredita que ele atua da mesma forma que altos níveis de estresse: “Provavelmente ele afeta o circuito de papez, responsável pelas emoções, levando a quadros depressivos. Também acredito que ele afeta mais o funcionamento do que as estruturas. Ou seja, os processos psicológicos superiores ficam alterados, em especial a memória.”

O adoecimento é composto de três dimensões: a primeira, chamada de emocional, e se dá por muitas exigências do ambiente de trabalho, levando a pessoa a uma ausência de energia, tensão por medo da incapacidade de realizar as tarefas e, consequentemente, frustração. Já a segunda, é chamada desumanização e é perceptível quando o indivíduo demonstra sentimentos negativos, baixa sensibilidade e impessoalidade. A terceira, por sua vez, é a baixa realização pessoal e a propensão para o abandono. Esta última é caracterizada por uma tendência negativa do próprio desempenho aliado ao sentimento de insatisfação.

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“No ponto de vista das ações, essa pessoa vai ter queda na produtividade, falta de engajamento, conflitos com colegas e gestores e até ideação suicida”, afirma Cloves. Os sintomas podem ser físicos, comportamentais ou emocionais e é preciso prestar atenção nos sinais para identificá-los. Abaixo, listamos alguns:

Sintomas do burnout

1. Distúrbio do sono
2. Dores musculares
3. Problemas no sistema digestivo, como azia, gases e dificuldade na digestão
4. Pressão alta
5. Dermatites
6. Sistema imunológico deficiente
7. Baixa libido e disfunção sexual
8. Dificuldade de respirar
9. Ansiedade
10. Sentimentos de solidão

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(Intervenção sobre foto de Cottonbro/Pexels)

É possível sair dessa

O diagnóstico é feito por um especialista, que fará uma entrevista para compreender o grau de sofrimento do indivíduo. Ou seja, ele irá entender se o caso é um estresse comum ou não e encaminhar o tratamento, que pode ser com medicamentos e psicoterapia. “O cuidado deve ser multidisciplinar e englobar os sintomas físicos e emocionais. É indicado que a pessoa faça mudanças de hábitos, atividade física, atendimento psicológico, melhore a qualidade do sono e tenha momentos de lazer”, indica o professor.

Se você conhece alguém que está passando por isso, tente perceber se há diminuição do prazer em tarefas que o sujeito gosta muito, se ouve frases como ‘não aguento mais’ e se há relatos de sensação de infelicidade ou inadequação no trabalho. A partir daí, indique uma intervenção médica para que o problema não se agrave. “Não ache que isso é preguiça, falta de religião ou vergonha. Quem está passando por isso precisa de acolhimento, e não ser alvo de preconceitos”, alerta Cloves.

Agora, se você sente que o seu trabalho está pesado, há algumas dicas que pode seguir: busque apoio nos pares e converse com seu gestor, pratique atividades físicas regulares, cultive a autoestima para conseguir enfrentar o sentimento de medo e perigo da demissão, cultive o ócio e tenha horas de lazer.

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