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Elástica explica: fetiches

Listamos alguns fetiches – dos mais comuns aos raros e um pouco esquisitos – para te lembrar que, na hora do sexo, vale (quase) tudo

por Redação Atualizado em 7 out 2021, 15h47 - Publicado em 6 out 2021 22h48
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(João Barreto/Ilustração)

alar de sexo para nós é, com o perdão do trocadilho, um prazer. Gostamos de tratar o orgasmo e a busca por satisfazer o nosso tesão sem nenhum tabu, falando abertamente sobre o tema e desvendando suas camadas. Já conversamos aqui sobre sexo que envolve alguns aditivos – o famoso chemsex –; os efeitos dos antidepressivos na libido, um tema que se torna cada vez mais relevante com os efeitos da pandemia sobre nossa saúde mental; a vida das trabalhadoras do sexo e, por que não, alguns casos curiosos que rolaram em moteis durante o isolamento social.

Também nos debruçamos sobre a vida das camgirls, que mostram o corpo e performam alguns atos sexuais na internet mediante pagamento; discutimos o sexo na terceira idade – sua avó também transa, ok? –; e mergulhamos nas profundezas do Twitter para entender porque algumas pessoas compartilham tanta putaria por lá.

Mas um tema ainda tinha ficado de fora do nosso leque: fetiches. De acordo com o dicionário, denomina-se fetiche “qualquer objeto, geralmente peças do vestuário, parte do corpo ou comportamento que se acredita apresentar qualidades mágicas ou eróticas”. Confesso ter dado uma risadinha de “qualidades mágicas”, mas, se a gente ler com boa vontade, será que não é meio mágico mesmo que algo às vezes não relacionado com sexo nos desperte tanto tesão quando colocado ali, na hora H?

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(João Barreto/Ilustração)

Fetiche ou parafilia?

Com ou sem magia, é importante, no entanto, fazer uma ressalva a essa definição do dicionário: não é tudo que nos desperta tesão que podemos chamar de fetiche. E não estamos dizendo isso para censurar ou colocar amarras no prazer de ninguém. Algumas coisas que causam prazer são consideradas parafilias e transtornos parafílicos, termos médicos para designar distúrbios psíquicos que se caracterizam pela preferência ou obsessão por práticas sexuais socialmente não aceitas e que causam sofrimento psíquico a quem os possui ou a terceiros, como a pedofilia, a zoofilia ou a necrofilia – vamos falar mais disso em breve.

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“A gente não pode falar que fetiche é um sinônimo de parafilia. Fetichismo é, vamos dizer, ter atração por algo ou objeto, ou uma preferência amorosa e/ou erótica por alguma coisa. Pode ou não ser uma parafilia, dependendo do que for esse objeto. É como se o fetiche fosse uma palavra mais ampla, enquanto a parafilia é um espectro mais reduzido e o transtorno parafílico é ainda menor, para quando você tem uma obsessão”, explica Uno Vulpo, psiquiatra em formação e pesquisador de sexualidade, gênero e redução de danos, além de ser nosso colunista sempre certeiro e bem humorado para tratar desses temas. “As parafilias são descritas dentro do DSM (Manual de Diagnósticos e Estatística de Transtornos Mentais) e formam uma lista enorme: exibicionismo, pedofilia, sadomasoquismo, transvestismos (sim, ainda), fetichismo, frotteurismo (tesão em esfregar corpos, e isso vale pra se esfregar em alguém no ônibus, por exemplo). É importante lembrar também que boa parte do estudo de parafilias é bem datado e arcaico, porque tem uma base muito preconceituosa e polêmica. Homossexualidade já foi considerada uma parafilia”, pontua Uno.

Feitas as diferenciações, chegou a hora de descobrir um pouco mais sobre os fetiches mais pesquisados, mais comuns e também mais… diferentes que você pode encontrar por aí. Antes de mais nada, vale mais uma ressalva: cada um sabe o que funciona melhor para si na hora do sexo e, se existir consentimento, não for crime ou não fizer mal ao seu parceiro, parceira ou parceire, não tem nada de errado com a maneira que você escolhe para sentir prazer. Preparades?

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(João Barreto/Ilustração)

Podolatria

Se você chegou a 2021 sem nunca ter escutado a expressão “pack do pezinho”, temos apenas uma pergunta: COMO? O fetiche por pés é algo bastante comum, ainda que exista muita gente que tem nojinho de encostar no pé do outro em qualquer situação. Aqui, estamos falando não só de envolver os pés na hora do ato sexual – vale beijar, lamber, usar os pés para estimular áreas erógenas e até introduzi-los onde você bem entender –, mas também de achar esteticamente bonito e sentir prazer pelos odores dos pés. Sim, existe um submercado de compra e venda de tênis e meias usados.

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(João Barreto/Ilustração)

BDSM

A sigla de quatro letras engloba diversas preferências sexuais e fetiches: bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo. Enquadra-se no BDSM aqueles que sentem prazer na dor ou em submeter-se às vontades – em diversos níveis – dos parceiros. Assim como qualquer outra prática sexual, é fundamental lembrar que o consentimento deve estar sempre em primeiro lugar. E, como o BDSM por vezes envolve objetos ou práticas que podem machucar – amarrações com cordas, chicotes, tapas e por aí vai –, é importante combinar uma palavra-chave para que, se as coisas ficarem muito pesadas, o outro saiba que você quer parar.

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O universo do BDSM também tem alguns termos específicos que podem te ajudar a entender melhor a prática caso você seja iniciante. Dom ou Domme é a pessoa que exerce o papel de dominadora; Sub é o nome dado ao submisso ou submissa, aquele que vai receber ordens e se submeter às vontades do parceiro; e Switcher é alguém que gosta de desempenhar as duas funções – dom e sub, não necessariamente com as mesmas pessoas ou na mesma ocasião.

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(João Barreto/Ilustração)

Cuckolding

O nome complicadinho em inglês tem explicação fácil em português: tesão em ser corno. Não, não estamos brincando. Dá-se o nome de cuckold ou cuckolding ao fetiche por ver sua parceira se relacionando com outras pessoas. E não estamos falando de traição: o cuckold pressupõe um acordo entre as partes – o casal e a terceira pessoa – e tem quem enquadre isso como uma vertente do masoquismo. E as formas de como praticar são variadas e dependem do tesão de cada um: há homens que gostam apenas de ficar sabendo que a relação da parceira com outra pessoa rolou, enquanto outros gostam de acompanhar – presencial ou remotamente.

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Achou curioso e se interessou? Você não está sozinhe. O cuckolding é o fetiche que mais cresce em buscas no Brasil, de acordo com dados do Google e do XVideos – são mais de 40 mil vídeos disponíveis envolvendo o termo “cuckold” e outros mais de 20 mil se você procurar por “corno”.

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(João Barreto/Ilustração)

Asfixiofilia

O nome já entrega tudo: esse é o nome do fetiche de quem sente prazer ao ser asfixiado durante o sexo. A prática também é chamada de asfixia erótica ou hipoxifilia e é considerada uma ramificação do masoquismo. Nela, o parceiro ou parceira pode te asfixiar, usando as mãos, uma corda, ou um cinto, além de não ser incomum cobrir a cabeça com um saco plástico ou uma fronha. Mas vamos fazer dois lembretes óbvios aqui: assim como nas práticas de BDSM, aqui é importante ter uma palavra-chave ou safe word para que o outro interrompa a asfixia no momento em que você não estiver mais confortável. E, claro, consentimento sempre.

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A prática de asfixia erótica também pode ser de autoasfixia, ou seja, você mesmo restringe a quantidade de ar que respira durante o sexo ou a masturbação. Se estiver sozinho e quiser praticar isso, é importante também pesquisar e se certificar de que seu prazer não vai ameaçar sua vida.

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(João Barreto/Ilustração)

Exibicionismo e voyeurismo

Ouvimos a vida inteira que sexo é algo privado e que deve ser feito entre quatro paredes. Mas quem é adepto do exibicionismo e do voyeurismo vai concordar em discordar dessa afirmação. Conhecido medicamente como agorafilia, o exibicionismo é o fetiche em transar em lugares públicos ou com outras pessoas vendo – esse complemente é importante já que não significa que quem assiste precise estar fisicamente presente. Durante a pandemia, por exemplo, muita gente colocou em prática seu exibicionismo nas festas online, transando com parceiros na frente da webcam, ou compartilhando vídeos eróticos com os contatinhos. Sim, há quem diga que mandar nudes e afins seja considerado um tipo de exibicionismo

Já o voyeurismo é a outra ponta desse fetiche. Enquanto alguns gostam de ser observados enquanto transam, outros sentem tesão apenas ao assistir. Mas todo mundo envolvido na prática – os observados e os observadores – devem estar cientes, ok? Sem consentimento não tem fetiche que se justifique.

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(João Barreto/Ilustração)

Amaurofilia

O nome é meio esquisito mas a explicação é simples: chama-se amaurofilia o fetiche de transar com alguém usando máscaras. Adereços na hora do sexo não são novidade e não necessariamente podem se enquadrar em fetiche, mas aqui, além da máscara em si, o tesão vem do desconhecido, de não ver o parceiro ou parceira completamente. Enquadram-se na amaurofilia também vendas, panos e quaisquer outros acessórios que você usar para cobrir a visão. É considerado um fetiche bastante comum, já que o prazer em não ser visto pelo outro pode ser facilmente atingido ao simplesmente apagar as luzes 😉

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(João Barreto/Ilustração)

Frotteurismo

Esfregar seus genitais em outros genitais ou no corpo de outra pessoa é um fetiche e esse é o nome dele. Aqui, é importante não confundir o frotteurismo com gouinage, outra prática sexual que envolve a pegação, masturbação e o sexo oral, mas dispensa a penetração. No frotteurismo – ou frottage – o tesão vem exclusivamente dessa esfregação e ele pode, sim, ser considerado um fetiche ao ser praticado com consentimento. No entanto, é comum encontrar descrições de frotteurismo como transtorno parafílico no caso de pessoas que esfregam seus genitais em outras em lugares públicos ou sem o consentimento da outra pessoa envolvida.

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(João Barreto/Ilustração)

Urofilia

Essa daqui é pra ninguém fazer o Bolson*ro e perguntar no Twitter o que é golden shower. Urofilia é o fetiche em urina na hora do sexo. Pode ser mijar no parceiro ou parceira, receber a urina no corpo, bebê-la e afins – tudo isso são camadas de um mesmo fetiche. Tudo que envolve secreções do nosso corpo é naturalmente um tabu e, com essa prática, não seria diferente. Ainda assim, a urofilia e o golden shower são fetiches bastante comuns na comunidade gay, por exemplo.

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(João Barreto/Ilustração)

Coprofilia

Se o fetiche acima já era um tabu, esse daqui então divide opiniões e tem gente que nem considera fetiche, mas transtorno mesmo. A coprofilia é o tesão envolvendo fezes na hora do sexo. Sim, pode ser uma coisa mal cheirosa e provavelmente deve fazer uma bagunça e tanto na hora H, mas a gente não está aqui para julgar, mas para informar. Esse fetiche pode envolver cagar no parceiro ou parceira, ou pedir para que ele defeque em você. Isso não tem absolutamente nada a ver com “passar cheque” e, como já falamos ao longo de todo esse texto, é bem importante que haja consentimento na hora da prática para não assustar ou enojar quem estiver transando com você.

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(João Barreto/Ilustração)

Espectrofilia

Vamos terminar com um fetiche um tanto quanto… curioso. Se você leu espectrofilia e pensou em fantasmas e espíritos, estamos aqui para dizer que você pensou… certo. Antes que você pense diretamente em Ghost ou na Izzie Steves, de Grey’s Anatomy – lembrando que ela tinha um tumor gigante no cérebro –, o tesão por relacionar-se com um espírito ou fantasma precede tudo isso e sua descrição na literatura médica vai além dessa experiência envolvendo seres extra-corpóreos. Enquadra-se na espectrofilia também o tesão por imagens translúcidas ou por reflexos no espelho, o que nos parece um pouco mais palpável.

A quem interessar possa: relatos na internet dessa prática dizem que é mais fácil invocar o parceiro ou parceiro perto da hora de dormir, um momento em que nosso lado paranormal está mais aflorado. E, para a surpresa de ninguém, a ciência nunca comprovou nenhum relato de sexo entre humanos e espíritos, mas tem gente que afirma já ter feito.

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As imagens que você viu nessa reportagem foram feitas por João Barreto. Confira mais de seu trabalho aqui.

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