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Como será a vida após a pandemia?

Três especialistas em tendências respondem e contam o que mudou até aqui

por Bruna Bittencourt Atualizado em 25 ago 2020, 16h04 - Publicado em 25 ago 2020 00h10
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(Clube Lambada/Ilustração)

ome office, reuniões por Skype, festas por Zoom, drive-ins, lives, compras on-line, aulas à distância. Da noite para o dia, a pandemia forjou em nós hábitos que adotamos nestes cinco meses de distanciamento social no Brasil. Mas, ainda em meio a esta grave crise, dá para esboçar como será o mundo depois da Covid-19? “Se alguém me oferecer um guia do que fazer após a pandemia, eu não aceito”, diz a consultora e professora da FAAP Iza Dezon, que há quase uma década estuda macrotendências. “Ainda não tem como saber, isso não é uma situação que a gente já viveu, não é um terremoto, não é um tsunami. Detesto comparações com a gripe espanhola, não tem nada na vida das pessoas [naquela época] que seja remotamente parecido com o que está acontecendo agora”, completa Iza, que durante 40 dias dividiu em seu perfil no Instagram reflexões sobre o futuro e segue fazendo entrevistas sobre o tema na rede social.

“No início da pandemia, vimos uma ansiedade muito grande em se prever um novo normal, de se traçar como a humanidade vai se comportar depois da pandemia. Mas a gente não pode fazer isso porque existem muitas realidades, muitas necessidades diferentes”, diz André Carvalhal. Para o consultor, que também vem dividindo vários insights sobre a pandemia em seu perfil no Instagram, serão vários novos comportamentos. “Cada pessoa e cada grupo vai experimentar tudo isso de um jeito diferente.”

» LEIA MAIS: O mercado de sex toys viu seus números dispararem por causa da pandemia de coronavírus, que obrigou grande parte da população a praticar o isolamento social

Além dessa ansiedade, também se cogitou uma grande mudança da humanidade após a Covid-19. “No início, a gente via a pandemia como uma oportunidade de transformação. Depois dela, todo mundo ficaria bonzinho, consumiria menos e o planeta se regeneraria. Apesar da pandemia ainda não ter passado, tenho percebido, ao longo desse processo, que ela funciona muito mais como um acelerador do que um [agente] transformador. Vejo que muitos processos que já estavam em curso estão acelerando”, diz André.

Se ainda não dá para esboçar o que vem depois da crise, listamos as mudanças em curso e que a pandemia apressou:

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(João Barreto/Ilustração)
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Digitalizando a vida

O distanciamento social, para quem pode fazê-lo, não deixou alternativas: “Todo mundo está sendo obrigado a digitalizar sua vida”, diz Sereno Moreno, especialista em planejamento e pesquisa da Box1824. Apesar de terem sido lançadas há anos, ferramentas para comunicação via internet como Zoom ou Skype foram adotadas em massa na pandemia (a primeira cresceu 30 vezes em relação a dezembro passado, apesar de problemas de segurança), enquanto as compras on-line tiveram um aumento expressivo no Brasil. De fato, a pandemia fez a gente entrar no século 21”, diz Sereno. Para ele, quanto mais tempo durar o distanciamento social, maior a chance de adotarmos esses hábitos. “A pandemia tirou a gente a zona de conforto. Ela criou dinâmicas, como as novas formas de interagir, e requer novos comportamentos, embora eles já tivessem sido mapeados”, diz Iza.

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(João Barreto/Ilustração)
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Consumo preciso

Muito se falou sobre uma possível volta ao essencial e um declínio do consumismo após a pandemia. “As pessoas vão comprar mais ou menos? Não sei. Vai ter gente sem dinheiro e gente com dinheiro guardado, louca para gastar”, questiona André. “A crise está aí. O consumo de excesso e de impulso tende a reduzir, as pessoas não ver ter muito dinheiro a longo prazo”, diz Sereno. Para o pesquisador, esse gasto mais preciso virá acompanhado com uma preocupação com a transparência da cadeia produtiva e sua sustentabilidade, depois que a pausa forçada provocada pela pandemia fez com que os níveis da poluição diminuíssem pelo mundo. Já o aumento das compras on-line gerou, por parte do consumidor, uma preocupação com seus dados disponibilizados e possíveis fraudes, uma discussão que está ganhando o espaço público, conta Sereno, e que já existe no mercado asiático.

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(João Barreto/Ilustração)
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Pró-verdade

Bolha das mídias sociais, algoritmos que confinam as pessoas dentro de seus próprios interesses, propagandas disfarçadas de informação. Ainda no auge das fake news e da pós-verdade (em que crenças pessoais têm menos importância do que fatos objetivos), ganham força movimentos como o de pró-verdade e a busca por provas e evidências, segundo Iza. “A gente não estaria nesta situação política, se tivéssemos conseguido elucidar as pessoas sobre fake news, bolha de influência e pós-verdade”, diz.  

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(João Barreto/Ilustração)
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Empatia

Estamos vivendo uma experiência de catástrofe que deixa as pessoas muito vulneráveis, independentemente de classe social. Há uma preocupação expandida com o senso de comunidade. Naturalmente, a discussão sobre desigualdade social sobre as populações periféricas e a preocupação com colaboradores se intensificaram”, diz Sereno. Como resultado, há um crescimento da filantropia no país e um incentivo ao consumo de produtores locais. “O pensamento que rege é ajudar a pessoas que tenho contato”, completa o pesquisador. 

“É sobre menos consumo e mais comunidade”, diz Iza. “Para mim, foi muito forte escutar o episódio do podcast da Michelle Obama, com participação do Barack [publicado em 29 de junho], em que eles abordam que, para viver em comunidade, a gente precisa abrir mão de algumas coisas, não dá para ter tudo porque senão alguém vai ficar sem. Achei isso particularmente importante porque o vírus está fazendo está fazendo a gente reavaliar nossa convivência em comunidade.”

A pandemia também acelerou uma tomada de consciência de temas que já estavam sendo discutidos, segundo Iza. “Nunca se falou tanto em empatia, não só por conta da pandemia, mas neste momento que estamos vivendo como sociedade”, diz a consultora. Os protestos pelo mundo que apoiam o movimento Black Lives Matter são uma amostra. Acho que o grande ponto da pandemia é o despertar da consciência, que é o que mais falta para a civilização ocidental. É o motor de mudanças na realidade, é a única coisa que a gente pode de fato esperar.”  

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As imagens que você viu nessa reportagem foram feitas por João Barreto. Confira mais de seu trabalho aqui.

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