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Elástica explica: transtornos alimentares

O diagnóstico que afeta 5% da população tem crescido entre os jovens e preocupado até os fãs do Big Brother Brasil 2022

por Beatriz Lourenço Atualizado em 16 fev 2022, 15h18 - Publicado em 15 fev 2022 22h17
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(Clube Lambada/Ilustração)

s transtornos alimentares voltaram à pauta e ganharam destaque nas discussões na internet por causa do comportamento de alguns participantes do Big Brother Brasil 2022. A gaúcha Bárbara Heck, eliminada na última terça-feira com 86% dos votos, chamou a atenção por ser adepta do jejum intermitente e passar muitas horas sem comer. Outro hábito preocupante da participante é o de chupar limão para, supostamente, driblar a fome. Já o ator Arthur Aguiar foi criticado pela esposa Maíra Cardi por se jogar nos carboidratos – o famoso pãozinho –, o que não tem problema nenhum, é claro, não fossem as ideias malucas sobre emagrecimento da influenciadora e coach.

“É muito difícil diagnosticar essas atitudes como transtorno alimentar apenas observando de fora. Isso porque há a edição do programa e não sabemos de tudo o que acontece lá dentro. O que dá para analisar é a ação que chamamos de ‘comer transtornado’, que acontece quando a pessoa não consome alimentos diversificados”, explica a nutricionista Maria Fernanda D’Ottavio. “Não existem estudos que comprovem os benefícios do jejum. Até então, as diretrizes da nutrição não recomendam.” Os prejuízos incluem problemas gástricos como gastrite e refluxo.

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A especialista afirma que, no caso do limão, o benefício é apenas a grande quantidade vitamina C, mas a ingestão exagerada pode causar sensibilidade no estômago e aftas por ser um alimento muito ácido. Por outro lado, a conduta de Arthur pode ser uma consequência das dietas restritivas que seguia em casa. “Elas nunca são a solução porque podem induzir o indivíduo a pensar o tempo todo no que não pode comer. É aquela sensação de que proibido é mais gostoso”, diz Maria Fernanda.

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(Intervenções sobre fotografia Girl with red hat/Unsplash)

O que são transtornos alimentares?

Eles são um conjunto de alterações psicológicas que afetam a alimentação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5% da população brasileira sofre com esses distúrbios, isso equivale a cerca de 10 milhões de pessoas. Esse índice chega até a 10% dos adolescentes e isso é um alerta importante, já que pode afetar o desenvolvimento e bagunçar os hormônios. 

Há diversos fatores de risco e eles podem afetar qualquer pessoa. O histórico alimentar, a mudança de rotina, a depressão, a ansiedade ou até mesmo a genética podem predispor alguém a desenvolver um transtorno alimentar. “Há uma questão muito forte da pressão social causada pela mídia e pela divulgação de dietas sem base nutricional alguma”, ressalta a nutricionista. “Conheço um caso de anorexia, por exemplo, em que a mãe cobrava muito a filha para ser magra. Isso causou nela um problema psicológico grande que afetou a alimentação”. Nas redes sociais, uma saída é seguir pessoas com corpos parecidos com o seu e dar aquele unfollow em quem faz propagandas de emagrecimento, mostrando dietas ou até medicamentos — afinal, cada corpo é único e a saúde não tem nada a ver com o peso.

Por ser uma questão de saúde mental, o diagnóstico é feito com uma colaboração entre nutricionistas e psicólogos, que verificam o dia a dia alimentar, o peso e a autoimagem do paciente. Comer escondido, sensação de inadequação, tentativas constantes de dieta e sentir-se culpado após as refeições são sinais que devem ser levados em conta. “Quem está de fora pode ajudar pedindo indicações a um profissional sobre como abordar o assunto para que o paciente não se sinta julgado. Acolher e não apontar os erros é sempre a melhor saída”, aconselha a especialista. 

“Sofri de bulimia e anorexia por mais de 1 ano na adolescência. Não foi uma época fácil, cheguei a ser internada com anemia e diversos problemas persistem até hoje, como gastrite e intestino preso”, revela Malu Lutfi. “Cheguei a ficar semanas sem comer e, nos raros casos que comia, sofria com a culpa. Sei que passar por transtornos alimentares não é só prejudicial para o corpo, mas para a mente também. Por isso, procurar ajuda é essencial.”

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(Intervenções sobre fotografia Girl with red hat/Unsplash)

Quais são os transtornos alimentares mais conhecidos?

Anorexia

É causada por um desejo ilimitado de perder peso. Também é caracterizada por uma imagem distorcida do próprio corpo e abuso de dietas ou exercícios para emagrecer. Aqui, o indivíduo se priva de alimentação – o que gera diversos problemas de saúde e sensação de fraqueza. Geralmente, tem início na adolescência ou na idade adulta jovem.

Sinais de alerta: os sinais se mostram, principalmente, no comportamento durante as refeições. Pode-se perceber a contagem excessiva de calorias, dietas restritivas, jejum prolongado e pouca quantidade de comida no prato. Algumas pessoas desenvolvem depressão e se isolam na hora de comer.

Bulimia

É um distúrbio alimentar em que o paciente oscila entre comer exageradamente, com um sentimento de perda de controle da alimentação, e episódios de indução de vômitos ou diarréia. O uso de automedicação para induzir o expurgo é recorrente.

Sinais de alerta: uso de qualquer droga lícita ou ilícita para perda de peso, mudanças frequentes de peso, sensação de inchaço, mudanças no período menstrual, desmaio ou tonturas frequentes, depressão, ansiedade, mentir sobre a alimentação, idas frequentes ao banheiro durante ou logo após as refeições e irritabilidade.

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Compulsão alimentar

Caracteriza-se pela ingestão exagerada de alimentos. Ocorre sem a presença de fome ou necessidade física da comida. Por se sentir culpada, a pessoa chega a esquecer o que comeu. Nesses casos, a ansiedade pode ser um grande gatilho.

Sinais de alerta: se alimentar muito rápido e escondido, sensação de tristeza e culpa após as refeições e alterações de humor.

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Síndrome do comer noturno

Consiste em episódios de ingestão de alimento no período da noite. A vontade de comer pode gerar a incapacidade de dormir e até mesmo problemas cardíacos.

Sinais de alerta: insônia, ansiedade, alterações de humor, falta de apetite pela manhã e crença de que comer é necessário para iniciar ou voltar a dormir

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